DE OLHO NO INVISÍVEL


Se a tese que defendo, de que estamos entrando na era da inovação continuada, for, de fato, verdadeira, teremos nos próximos anos um acirramento na guerra pelo conhecimento, embate que, embora já esteja rolando forte na turma dos que enxergam longe, é, ainda, bastante subestimada quanto aos efeitos que possa provocar, para o bem e para o mal, pela turma acostumada a enxergar o mundo pelo retrovisor.

Embora invisível, o conhecimento será o insumo que transformará empresas que ainda sequer nasceram ou que ostentam hoje a humilde condição de simples start-ups em líderes mundiais. Será também a única matéria prima que permitirá às grandes organizações globais, de todos os setores econômicos, manterem posição ou, em casos limite, permanecerem vivas.

Do ponto de vista dos governos nacionais, conforme já mencionei em postagens anteriores, o desafio de vida ou morte, será inserir seus respectivos países na economia do conhecimento, o que não é mole. Se notarmos que muitas nações sequer entraram na era industrial, mais de dois séculos passados de seu advento, imaginem o desafio que será, para todos os países, integrarem-se à sofisticada era do conhecimento.

Por dever de ofício, venho acompanhando diversas iniciativas adotadas em nações nas quais o debate sobre a economia do conhecimento encontra-se mais amadurecido. Sem a menor pretensão de esgotar o assunto, procurarei consolidar neste artigo os temas mais abordados nas agendas modernizadoras desses países, a maioria deles já comentadas isoladamente em postagens anteriores deste blog. Dos mais estratégicos, aos mais operacionais, destaco os seguintes pontos:

1. Readequação do sistema educacional para a economia do conhecimento. Esta providência envolve local, forma e conteúdo. Não há mais como pensar que o processo de aprendizagem deva se restringir às salas de aula. Aprender sempre, e em qualquer lugar, é o lema. Recomendo, neste sentido, a leitura do documento Remixing Cities, produzido pela CEOs for Cities, rede de urbanistas dedicados ao estudo das cidades norte-americanas do futuro. O jeito de ensinar também encontra-se na berlinda. O desafio é incorporar o uso das novas tecnologias e, o que é mais importante, incluir métodos pedagógicos que estimulem a reflexão e a visão crítica, essenciais para a compreensão da sociedade atual. Quanto ao conteúdo do ensino, há, também, uma preocupação forte em trazer para dentro do sistema educacional, novas disciplinas típicas da era do conhecimento, como aquelas vinculadas à nanotecnologia, biotecnologia, ecologia, sustentabilidade, novas tecnologias, entre muitas outras. A decisão entre reorientar, ou não, o ensino para os novos tempos significará, mais do que nunca, aprofundar ou diminuir desigualdades.

2. Construção de redes digitais cada vez mais densas, velozes e acessíveis a todos os cidadãos. A percepção de que, a cada momento, uma significativa e crescente percentagem do PIB - Produto Interno Bruto trafega por estradas virtuais, e não por rodovias, ferrovias, portos e aeroportos tem ampliado, de forma exponencial, o número de políticas públicas dedicadas ao problema. Esta preocupação vai do pequeno município, que enxerga nela a possibilidade de abocanhar novos e preciosos nichos de mercado, à grande nação que quer se manter competitiva ao longo do século XXI.

3. Incremento do número de ministérios, secretarias, agências e outras estruturas administrativas dedicadas especificamente à gestão do conhecimento e à inovação. Ainda que essas estruturas não sejam, per se, garantia de modernização efetiva, têm o mérito de dar visibilidade aos esforços de ruptura dos modelos e paradigmas industriais e à formação de uma nova cultura organizacional centrada na atividade multidisciplinar, no trabalho intersetorial e na criatividade.

4. Da concepção de um produto à sua colocação no mercado, há uma série de passos que demandam recursos monetários. Uma providência recorrente nos países, sejam eles grandes produtores de conhecimento, ou com pretensões explícitas neste sentido, tem sido a recalibragem das estruturas públicas de financiamento, de modo a valorizar a geração de produtos e serviços inovadores. Este desafio passa, também, por uma revisão nos critérios de priorização de recursos, de modo a incorporar, nesse modelo, a produção de bens intangíveis e abrir espaço para empresas cujo único capital seja a qualidade de seus recursos humanos.

5. Estímulo ao uso de métodos e técnicas gerenciais pós industriais, orientados para a captação e gerenciamento de idéias, estímulo à criatividade, tratamento de problemas complexos, prototipagem de produtos e serviços inovadores, e por aí vai. Uma boa visão sobre o estado da arte dessas técnicas e de suas aplicações práticas nas organizações governamentais e privadas pode ser vista no blog que trata de técnicas e ferramentas para inovação, o mais recente produto da rede paulista de inovação.

6. Os últimos dezoito meses mostraram a explosão da utilização de ferramentas sociais (blogs, twitter, wikis, vídeos, etc.) pelas organizações em geral e, mais recentemente, pelos governos. Esta revolução, dado seu impacto, tem gerado ações e reações que não podem ser tratadas de forma superficial. Neste sentido, conscientes da seriedade e inevitabilidade do problema, diversos países vêm reexaminando e atualizando suas respectivas legislações, no que tange a problemas delicados como segurança, publicidade/sigilo de informações, propriedade intelectual, ética, entre outros, de modo a garantir a sintonia entre estado e sociedade, em tempos de mudanças aceleradas.

7. Além de incorporar novas tecnologias, a modernização da administração pública demanda um consistente trabalho no campo da revisão de processos. Não basta automatizar o que existe, tema central das primeiras gerações de governo eletrônico. O grande esforço objetiva, agora, aumentar a inteligência dos processos, envolvendo questões como desburocratização, integração, incorporação de novas demandas, transparência, etc.

8. O barateamento dos custos de comunicação e a integração de diferentes mídias tem permitido ao setor publico colocar à disposição dos cidadãos uma série de novos serviços que aproveitem a rapidez, a mobilidade, e o tipo de linguagem desses recursos. A utilização de vídeos, nos quais altos dirigentes públicos falam de forma direta e descomplicada com todos os cidadãos (a propósito, recomendo a leitura da postagem do blog do Youtube Brasil do dia 14 de abril de 2010) e a utilização de torpedos para o agendamento de serviços públicos são dois exemplos desta tendência. Mais ainda, o amadurecimento e a popularização das tvs digitais irão permitir, em breve, a aceleração desse tipo de contato e a entrega de diversos tipos de serviço, na própria casa do cidadão.

9. A explosão das redes sociais está gerando uma nova e revolucionária etapa na relação entre governo e sociedade, provocando um rápido avanço na democracia participativa. Para ilustrar este movimento, cito aqui dois exemplos: realização de consultas populares, envolvendo desde o macroplanejamento de cidades até pequenas intervenções urbanas; e, a avaliação de serviços públicos prestados diretamente por quem os utiliza.

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