Há mais de 40 anos, em um trabalho acadêmico, tive a oportunidade de entrevistar um empresário aqui de São Paulo. Durante a conversa, fui por ele apresentado a uma pasta contendo uma série de recortes de notícias colhidos nos mais importantes jornais e revistas da época, aos quais se somavam alguns manuscritos por ele mesmo redigidos com base no que captava nos programas de rádio e TV. Tudo classificado de A a Z.
Este é o meu mais importante banco de dados, me disse com indisfarçável orgulho.
E as informações que vem dos computadores? O senhor não as utiliza? Perguntei algo surpreso.
Este é o meu mais importante banco de dados, me disse com indisfarçável orgulho.
E as informações que vem dos computadores? O senhor não as utiliza? Perguntei algo surpreso.
É lógico que sim. Na sequência, sapecou uma frase que não mais esqueci. Os números que recebo dos computadores me falam do hoje e do amanhã, enquanto que estas minhas pastas me preparam para o futuro.
Tecnicamente falando, o computador lhe instrumentava o operacional e o gerencial e suas pastas, o estratégico.
Interrompo a história, para lembrar aos nativos digitais que os computadores, à época, embora impressionassem pelo tamanho, eram máquinas caras e muito limitadas, que só entendiam a linguagem dos números. Informações desestruturadas, como as colecionadas por meu entrevistado, não podiam ser processadas.
Retomando, lembro outra frase marcante de meu interlocutor: Tenho certeza que, no futuro, os computadores além processarem dados numéricos conseguirão preparar estas pastas para mim.
Quase meio século depois, o surgimento dos Big Data, está demonstrando que meu entrevistado estava certo.
Os computadores tornaram-se máquinas mais poderosas e o mundo muito mais complexo e mutante. As organizações contemporâneas têm sido levadas, para sobreviver, a aprimorar a sua capacidade analítica. Os Big Data fornecem o instrumento, misturando números e dados não estruturados.
Como o instrumento tende a se espalhar para a maioria das grandes organizações, a diferença entre o sucesso e fracasso, entre o dinheiro bem aplicado e o desperdício, estará mais uma vez centrada na composição e na qualidade dos “químicos” que irão preparar esse “coquetel”.
De imediato, a organização que pretender utilizar os Big Data deve superar o estágio eliminatório, que envolve responder duas questões fundamentais, aparentemente óbvias, mas que nem sempre são levadas em consideração:
- Nós dispomos de boas bases de dados quantitativos e qualitativos que nos permitam preparar o “coquetel”?
- Nós temos clareza sobre o que fazer com os indicadores que serão gerados?
Se esta etapa corresponder a dois sins, então é hora de montar uma equipe altamente qualificada para essa atividade.
Nessa montagem, deve ficar cristalino que a implantação de projetos de Big Data, embora envolva ações como um viés bastante forte em TIC - Tecnologia da Informação e Comunicação, não deve ficar circunscrita a essas especializações. Dado o caráter transversal desses projetos, a equipe envolvida nessa empreitada, sob nosso julgamento, deverá agregar ao menos mais dois perfis de conhecimento, que na história por mim relatada, guardadas as diferenças de época, eram acumuladas pelo meu sagaz interlocutor.
São eles:
- Pessoas com bons insights e visão compreensiva da complexidade que marca a sociedade e a economia atuais;
- Colaboradores com profundo conhecimento do negócio que se pretenda monitorar e projetar.
Se a transdisciplinaridade não ficar clara para os stakeholders do projeto, e não se refletir na montagem da equipe, o mesmo tende a ser encarado como mais uma tarefa exclusiva da "turma da computação" e o fracasso será questão de tempo.
Neste caso, ficará bem mais em conta montar pastinhas, como as do meu entrevistado.
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