Há muitos anos, um colega de serviço visitou uma favela aqui na capital paulista em companhia de Dom Paulo Evaristo Arns, à época arcebispo de São Paulo.
Durante o trajeto, Dom Paulo, não me recordo o porquê, comentou com ele que, ao conversarmos com as pessoas, se quisermos, para valer, saber a realidade sobre determinado fato ou situação, devemos tomar especial cuidado com a maneira pela qual nos expressamos.
Para exemplificar, Dom Paulo começou a falar com os moradores, deixando sempre escapar uma pergunta do tipo: as coisas aqui estão muito ruins, hein? Quase todos os interlocutores concordaram com o arcebispo, desfiando um rosário de lamentações.
Lá para as tantas, Dom Paulo resolveu mudar a questão. A vida de vocês aqui é bem gostosa, hein?, começou a indagar a todos com quem fosse se encontrando. Como se a visita tivesse se transferido para um condomínio de luxo, as respostas, em sua grande maioria, passaram a discorrer sobre as belezas do local.
Algo perplexo, meu colega perguntou ao Dom Paulo: e aí, como fazer a pergunta certa?
O arcebispo com sua maneira dócil, uma das maiores virtudes dos verdadeiramente fortes, aliás, observou:
- As melhores respostas você obtém sem fazer perguntas.
Há mais de 30 anos convivo com esta frase, sempre me surpreendendo com sua propriedade e adequação à realidade da imensa maioria das organizações, sejam elas privadas ou governamentais. Onde há muitas perguntas, há pouco conhecimento. Podem reparar.
Aprendi, vida afora, que não só no trabalho, como em casa, ou no acalorado bate papo com os amigos, sobre futebol, política, sexo ou outro assunto qualquer, as perguntas, em sua grande maioria, são veículos que usamos para ouvir algo que nos conforte, anime, iluda, isente, e por aí vai. Isto é próprio do ser humano e não nos deve surpreender. Usar as respostas que colhemos, como norte, no entanto, já é outro papo. Provavelmente, teremos que fazer o retorno, mais à frente.
Muito boa, esta postagem, não?
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