Nos cursos de Gestão do Conhecimento e Inovação que eu e outros docentes especialistas em setor público ministramos aqui em São Paulo, desde 2004, sempre enfatizamos a importância de diferenciarmos dado, informação e conhecimento. O que parece óbvio é tratado de forma ambígua em muitos dos livros texto existentes. Isto nos leva a dois problemas centrais: pensar o conhecimento como sendo mera informação e, em função disto, superdimensionar o lado tecnológico da questão.
Para tentar evidenciar as diferenças, utilizamos em nossas aulas e palestras, as conceituações de Thomas Davenport e Larry Prusak (para dado e informação) e Peter Senge (para conhecimento), expostas no box abaixo, que nos parecem didaticamente as mais adequadas.
Mais ainda, para fixar bem esses conceitos, costumamos citar o trágico episódio de 11 de setembro de 2001, ocorrido nos Estados Unidos, no qual cerca de 3000 pessoas perderam a vida em função dos diversos ataques suicidas comandados pela Al Qaeda e que tem como imagem mais impressionante a queda das duas torres do World Trade Center, em Nova Iorque.
Apesar do ineditismo e da barbárie que marcaram estes atos, o governo norte-americano dispunha de uma série de pistas (que nada mais são do que os dados, na definição acima) a quais, se devidamente tratadas e transformadas em informações, poderiam, eventualmente, nas palavras do então diretor do FBI, Robert Mueller, ter evitado os ataques, ou seja promovido a ação efetiva(conhecimento) que teria salvo milhares de pessoas.
Neste mesmo curso, mostramos que a simples disponibilidade de tecnologia de ponta não garante a criação e compatilhamento de conhecimento, processo mais complexo que envolve pessoas e, portanto, habilidades, valores culturais, hábitos, insights, etc. e os aspectos organizacionais que definem, entre outras coisas, atribuições e relações pessoais e institucionais.
No caso em questão, ninguém duvida que as mais modernas tecnologias existentes no mundo estavam disponíveis, fato que, no entanto, não redundou em criação de conhecimento.
O que faltou, então?
Diversos estudos oficiais, elaborados após estas ações mostraram que os escritórios do FBI não se falavam. O mesmo ocorreu com a CIA. Colaboração entre os dois órgãos, então, nem pensar. O levantamento da qualificação dos técnicos de ambos os organismos também apontou para o desconhecimento, por parte dos agentes, de questões críticas sobre os fundamentos do mundo árabe. A inexistência da cultura da colaboração ficou igualmente patente nos relatórios apresentados.
Em síntese, as modernas tecnologias geradas na era do conhecimento convivem com modelos mentais e estruturas organizacionais concebidas em uma sociedade marcantemente industrial, totalmente inadequados para a complexidade dos dias de hoje.
Sem a criação de ambientes construídos em rede, propícios à troca de experiências, centrados no contínuo aprendizado organizacional, seguiremos tendo muitos dados, algumas informações e apenas algumas gotas de conhecimento.
Cabe a Gestão do Conhecimento e da Inovação, realizar esta ponte, analisando qualificações, estruturas, métodos, técnicas, ferramentas tecnológicas e questões culturais relevantes.
Não é fácil, mas é inevitável.
Realmente, isso é muito observado nas organizações públicas. Algumas já contam com sistemas e equipamentos avançados, mas enquanto os atores não mudarem seus modelos mentais, a gestão nunca será integrada e a reserva da informações continuará representando reserva de poder para os pouco esclarecidos ou que agem de má fé.
ResponderExcluirTenho observado, ainda hoje, a dificuldade das pessoas em distinguir informação de conhecimento. Achei muito interessante esta abordagem.
ResponderExcluirGosto de fazer uma analogia ao telégrafo:
1 - Enquanto transmite "toc-toc" são apenas dados;
2 - Dados são convertidos em sinal de SOS, por exemplo. Temos uma informação.
3 - O que fazer com este SOS? Correr? Acionar órgãos inteligentes? Saber como lidar com a informação é conhecimento. Reaprender com o saber é o conhecimento gerando conhecimento.